— Professor, o senhor é muito organizado — disse uma aluna referindo-se a uma planilha detalhada em que registro as aulas presenciais.
— É a preguiça! — respondi.
Sim, é a preguiça que me faz ser organizado. A planilha, por exemplo... Eu tinha muita preguiça de responder a um(a) aluno(a) que dizia:
— Professor, eu não sabia que era pra fazer isso porque faltei aula passada.
Ou:
— Professor, o senhor pode mandar de novo o link daquele texto?
Ou:
— Professor, mas eu entreguei o trabalho no dia tal.
Essas falas de aluno(a)s consumiam minutos e minutos de meu precioso tempo. Resolvi criar a planilha para dar uma resposta mais preguiçosa: "Dá uma olhada na planilha da disciplina, por favor."
Mas a preguiça é um bicho inquieto. Mal se livra de uma coisa já fica querendo se livrar de outra. Faz algum tempo que tenho tido preguiça de escrever parênteses para dar conta de todo(a)s o(a)s novo(a)s e antig(a)s aluno(a)s. Trata-se de uma necessidade, eu sei, de reverter o preconceito de gênero que está embutido em nossa própria língua, mas dá preguiça.
E não sou só eu que tem preguiça disso. No mundo digital, tem muita gente trocando "o(a)" por "@" para se dirigir a tod@s s@s amig@s virtuais. Pessoas mais radicais, de raiz, têm usado o "x". E, mais recentemente, vejo também o uso do "e", que é o que gera maior consenso.
São alternativas interessantes, mas descobri que também me dão um tanto de
preguiça. A "@" porque preciso apertar o SHIFT antes de digitar, o
"x" porque não é facilmente pronunciável e o "e" porque às
vezes confunde com o uso frequente do "e" como conectivo ou como
final de palavras já existentes: "o(a)s novo(a)s aluno(a)s" ficaria "es
noves alunes". Meio estranho tanto para ler quanto para pronunciar.
Mas o assunto é importante, merece consideração, e a preguiça não desiste fácil
quando o objetivo é se livrar de algum trabalho. Por isso, desde o final do
diário passado, i leitor atenti deve ter observado que usei o "i"
para substituir "o(a)". Algumas vantagens do "i": é tão fácil
de ser escrito ou digitado quanto qualquer outra letra, tem uma sonoridade não
apenas distinta mas que lembra o querido idioma italiano e não se confunde com
outras letras que já têm uso frequente.
Não bastasse isso tudo, já que o objetivo é reparar preconceito e
discriminação, faz-se ainda uma reparação a uma letra marginalizada na nossa
língua portuguesa. Usamos "a" e "o" como artigos definidos
e desinências de gênero. Usamos "u" na composição de artigos e
pronomes indefinidos (um, uns, algum, nenhum). Usamos "e" como
conectivo entre palavras e frases. Mas não usamos "i" a não ser
como uma interjeição que anuncia problemas: "Ih..."
Então i leitori e mis novis alunis me permitam, de quando em vez, fazer essa
substituição. E, se você é tão preguiçosi quanto eu, fica o conselho:
organize-se. A mensagem arqueada na bandeira nacional bem poderia ser ORDEM E PREGUIÇA.
I muiti ligal o qui vicê escriviu.
ResponderExcluirJá praticando, hein, Ádina. :)
ResponderExcluirGrato.
Gostei da ideia, mi cari amigui.
ResponderExcluirEscrevendo assim, parece o idioma italiani.
Querido didaticário, a ideia é válida, mas como o sr tem suas planilhas para evitar a preguiça, respeito e compreendo seu "i", mas ficarei com meus "queridxs" e "todes" pq stol mais acostumade; o que não impede de eu acostumar tb com o "i", de tanto ler aqui. Buenas!
ResponderExcluirIsso mesmo, Katia, fique com o que for bom pra você. :)
Excluirademássssss, tb prefiro o "e" para evitar a fadigue
ResponderExcluirComeço com um kkkk para uma pessoa que morreu (ou viveu) de rir. Bem acho que "i" moda vai pegar. Mas dá uma certa preguiça também de teclar o shift para colocar aspas no "i" todas as vezes que quizermos substitutuir. Tenho vícios de digitação que só me permito utilizar em alguns espaços virtuais. Tivesse eu lido as primeiras mensagens do SIGAA não teria digitado no post seguinte o vc e nem rsss. Mas tá (está) de boas porque é também uma mania minha começar as coisas de tras para frente ;) A propósito sou a Socorro, outra coisa que vai dificil eu desvincular neste semestre é meu nickname das redes sociais.
ResponderExcluirSol (Socorro), fique à vontade para errar. :)
ExcluirBoa tarde. Já tenho o "@" adotado. Até nas minhas aulas com meus pequenos. Gostei do esclarecimento do porquê do "i"!
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ResponderExcluirQuando li o primeiro post achei que "i leitori" fosse de fato uma frase em italiano (kkk), mas pesquisei e não encontrei o significado como tal. Grata pela explicação pois matou a minha curiosidade. Adorei a ideia de utilizar planilhas. A organização que as planilhas sugerem me tranquiliza, já que tudo fica contido numa imagem só, ou quase sempre.
ResponderExcluirPlanilhas são boas para minha saúde mental também, Bárbara. :) Nada como uma planilha nova para animar meu dia.
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ResponderExcluirIncrível! Como é bom te ler!!! É quase uma vacina :-)
ResponderExcluirSua leitura carinhosa é uma vacina, Marisa. :)
ExcluirEu nunca tinha percebido o quanto faz sentido a organização como alimento da preguiça. Interessante!!!
ResponderExcluirGostei do post, não sei se é assim que chama aqui, eu também morro de preguiça de ter que ficar escrevendo a flexão de gênero ou escrever os dois (masculino e feminino). A youtuber Rita Vom Huntin fez um vídeo bacana sobre linguagem neutra, o link é https://www.youtube.com/watch?v=WAzsxxMMlIM&feature=emb_logo
ResponderExcluirGrato pela dica, Beto. :)
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